sábado, 6 de abril de 2013

A BORBOLETA - POEMA INFANTIL


                                          A borboleta

Olavo Bilac


Trazendo uma borboleta,
Volta Alfredo para casa.
Como é linda!  É toda preta,
Com listas douradas na asa.

Tonta, nas mãos da criança,
Batendo as asas, num susto,
Quer fugir, porfia, cansa,
E treme, e respira a custo.

Contente, o menino grita:
“É a primeira que apanho,
“Mamãe vê como é bonita!
“Que cores e que tamanho!

“Como voava no mato!
“Vou sem demora pregá-la
“Por baixo do meu retrato,
“Numa parede da sala”.

Mas a mamãe, com carinho,
Lhe diz: “Que mal te fazia,
“Meu filho, esse animalzinho,
“Que livre e alegre vivia?

“Solta essa pobre coitada!
“Larga-lhe as asas, Alfredo!
“Vê como treme assustada…
“Vê como treme de medo…

“Para sem pena espetá-la
“Numa parede, menino,
“É necessário matá-la:
“Queres ser um assassino?”

Pensa Alfredo…  E, de repente,
Solta a borboleta…  E ela
Abre as asas livremente,
E foge pela janela.

“Assim, meu filho!  Perdeste
“A borboleta dourada,
“Porém na estima cresceste
“De tua mãe adorada…

“Que cada um cumpra a sorte
“Das mãos de Deus recebida:
“Pois só pode dar a Morte
“Aquele que dá a Vida.”

Em: Poesias Infantis, Olavo Bilac, Livraria Francisco Alves: 1949, Rio de Janeiro


Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (RJ 1865 — RJ 1918 ) Príncipe dos Poetas Brasileiros– Jornalista, cronista, poeta parnasiano, contista, conferencista, autor de livros didáticos.  Escreveu também tanto na época do império como nos primeiros anos da República, textos humorísticos, satíricos que em muito já representavam a visão irreverente, carioca, do mundo.  Sua colaboração foi assinada sob diversos pseudônimos, entre eles: Fantásio, Puck, Flamínio, Belial, Tartarin-Le Songeur, Otávio Vilar, etc., e muitas vezes sob seu próprio nome.  Membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Criou a cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias.  Sem sombra de duvidas, o maior poeta parnasiano brasileiro. 



Obras:

Poesias (1888 )
Crônicas e novelas (1894)
Crítica e fantasia (1904)
Conferências literárias (1906)
Dicionário de rimas (1913)
Tratado de versificação (1910)
Ironia e piedade, crônicas (1916)
Tarde (1919); Poesia, org. de Alceu Amoroso Lima (1957), e obras didáticas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário