Bandeja de madeira
Ladyce West
Comprei
uma bandeja de madeira,
No
mercado de usados da cidade.
O
preço alto, verdadeiro assalto,
Testava
a minha vontade…
Invocada
reclamei:
Preço
muito apimentado!
O
feirante desfiou, então,
A
ladainha da ocasião:
Uma
cascata de palavras
E
de muitas abobrinhas.
Listadas
de um modo simples,
Em
fileira memorizada,
Uma
tabuada de dados,
Sem
nexo e sem sentido,
Qual
jovem guia turístico
Treinado
para repetir,
Sem
nenhuma compreensão,
História
de monumentos,
Batalhas,
guerra ou ação.
Um
rol de características,
Uma
lista de preciosismos,
Que
turistas escutam em vão.
No
caso do comerciante,
Era
manobra astuta,
Artimanha
obstrucionista,
Inspirada
na política
Do
partido oposicionista,
Com
intenção de impedir
Barganhas,
regateio, pechincha.
Mas
não me dei por vencida
E
esbocei, na medida,
Uma
ensaiada choradeira
De
compradora matreira,
Desconfiada
confessa.
Mas
para meu desagrado,
A
manobra desta vez
Não
deu nenhum resultado.
E
o vendedor perturbado,
Não
se fazendo de rogado,
Disse
em português claro:
O
preço é este e está acabado!
Era
esperteza, eu sabia.
Manha
de ressabiado
Recalque
de gato escaldado.
Experiente
e esperta,
Também
lhe disse umas tantas,
Questionei
ainda uma vez
Os
dados da tal bandeja
Que
sabia muito bem
Não
ser uma antigüidade.
Mas
minha senhora veja,
Já
não se faz trabalho
Detalhado
como este.
Marqueteira
finíssima,
Olhe
a delicadeza
Deste
desenho aqui em cima!
Mantive
meu ar incrédulo
De
pessoa que conhece:
Reclamei
do acabamento,
Das
alças, das bordas, do centro,
Do
verniz barato – opaco.
Não
sou caloteiro!
Nem
tampouco pirateio.
A
Sra. pode confirmar
Nos
antiquários da cidade!
Vai
ver que é coisa boa,
Que
tem uma certa idade!
Pus-me
a andar, dando o fora,
No
velho ardil de negócios
Fazendo-lhe
acreditar
Que
era fácil ir embora.
Ele
veio correndo atrás,
É vintage, minha
senhora,
É vintage,
repetia!
Como
se a palavra,
A
denominação,
A
expressão estrangeira,
Respondesse
às perguntas
Corriqueiras
que lhe fiz.
Mas
parei. E voltei.
Queria
muito a bandeja
Rica
em marqueteira.
Não
pode ser eu dizia,
Eu
me lembro dessas bandejas,
Dessas
lembranças para turistas,
Vendidas
nas barraquinhas
Da
Quinta da Boa Vista…
De
súbito ele parou.
De
cima abaixo me olhou.
E
puxando lá do fundo
De
sua sabedoria, perguntou:
–
Mas quantos anos a senhora têm?
Num
breve momento de pausa,
Disse
para mim mesma:
Que
história! Traída pela memória!
Olhei
para a bandeja de novo
E
ainda uma vez mais…
E
paguei.
Nenhum comentário:
Postar um comentário