sábado, 6 de abril de 2013

BANDEJA DE MADEIRA - poema de Ladyce West


                               Bandeja de madeira

                                                                       Ladyce West


Comprei uma bandeja de madeira,
No mercado de usados da cidade.
O preço alto, verdadeiro assalto,
Testava a minha vontade…
Invocada reclamei:
Preço muito apimentado!
O feirante desfiou, então,
A ladainha da ocasião:
Uma cascata de palavras
E de muitas abobrinhas.
Listadas de um modo simples,
Em fileira memorizada,
Uma tabuada de dados,
Sem nexo e sem sentido,
Qual jovem guia turístico
Treinado para repetir,
Sem nenhuma compreensão,
História de monumentos,
Batalhas, guerra ou ação.
Um rol de características,
Uma lista de preciosismos,
Que turistas escutam em vão.
No caso do comerciante,
Era manobra astuta,
Artimanha obstrucionista,
Inspirada na política
Do partido oposicionista,
Com intenção de impedir
Barganhas, regateio, pechincha.
Mas não me dei por vencida
E esbocei, na medida,
Uma ensaiada choradeira
De compradora matreira,
Desconfiada confessa.
Mas para meu desagrado,
A manobra desta vez
Não deu nenhum resultado.
E o vendedor perturbado,
Não se fazendo de rogado,
Disse em português claro:
O preço é este e está acabado!
Era esperteza, eu sabia.
Manha de ressabiado
Recalque de gato escaldado.
Experiente e esperta,
Também lhe disse umas tantas,
Questionei ainda uma vez
Os dados da tal bandeja
Que sabia muito bem
Não ser uma antigüidade.
Mas minha senhora veja,
Já não se faz trabalho
Detalhado como este.
Marqueteira finíssima,
Olhe a delicadeza
Deste desenho aqui em cima!
Mantive meu ar incrédulo
De pessoa que conhece:
Reclamei do acabamento,
Das alças, das bordas, do centro,
Do verniz barato – opaco.
Não sou caloteiro!
Nem tampouco pirateio.
A Sra. pode confirmar
Nos antiquários da cidade!
Vai ver que é coisa boa,
Que tem uma certa idade!
Pus-me a andar, dando o fora,
No velho ardil de negócios
Fazendo-lhe acreditar
Que era fácil ir embora.
Ele veio correndo atrás,
É vintage, minha senhora,
É vintage, repetia!
Como se a palavra,
A denominação,
A expressão estrangeira,
Respondesse às perguntas
Corriqueiras que lhe fiz.
Mas parei.  E voltei.
Queria muito a bandeja
Rica em marqueteira.
Não pode ser eu dizia,
Eu me lembro dessas bandejas,
Dessas lembranças para turistas,
Vendidas nas barraquinhas
Da Quinta da Boa Vista…
De súbito ele parou.
De cima abaixo me olhou.
E puxando lá do fundo
De sua sabedoria, perguntou:
– Mas quantos anos a senhora têm?
Num breve momento de pausa,
Disse para mim mesma:
Que história!  Traída pela memória!
Olhei para a bandeja de novo
E ainda uma vez mais…

E paguei.

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